02 julho 2010

Uma escola ecologicamente correta

O Campus Ipanguaçu do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) implementa formas agroecológicas na condução de sua fazenda-escola.
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A ecologia e os debates acerca do meio ambiente estão repercutindo em toda a sociedade, pois os problemas naturais decorrentes dos processos antrópicos acabam por trazer essas temáticas para dentro do âmbito acadêmico. Por isso, cada vez mais, as escolas e universidades se preocupam em proporcionar aos estudantes uma formação voltada para a preocupação com o meio ambiente e com as gerações futuras.
No Campus Ipanguaçu do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) está bem explícito no seu Projeto Político-Pedagógico (PPP) a introdução na sociedade de profissionais capacitados para atuar de maneira ecologicamente correta, exercendo o seu papel no que se refere à cidadania.
No entanto, para que o PPP possa se disseminar entre os alunos integrantes do campus, é necessário que o mesmo se adéqüe aos padrões formulados por órgãos de inspeção ambiental, no caso, o Instituto de Defesa do Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (IDEMA) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Removíveis (IBAMA). Para que assim, os alunos sintam o exemplo dos servidores que compõem a Instituição onde convivem, aprendendo as práticas éticas-cidadãs.
Onde há a convivência de diferentes tipos de pessoas, é difícil a conceituação de ecologicamente correto em totalidade, porém o campus tenta buscar ações em que o meio ambiente não seja prejudicado. Todavia, não há como todos se proporem a participar das medidas ecológicas implantadas pela escola, por essa razão, não há como afirmar que a ecologia praticada no lugar é total. A parcialidade se dá, por exemplo, quando alguns dos alunos, que também constituem a instituição, resolvem desviar o caminho por cima da grama; percebemos assim que o caminho foi projetado para que aquela grama não servisse de atalhos e não fosse pisada, entretanto, a prática do estudante afetou o rótulo ecológico do lugar.
Entre as medidas ecológicas presentes na escola, encontramos a coleta seletiva do lixo, que é feita pelo colégio e repassada para a prefeitura de Ipanguaçu, que dá um destino para a os materiais coletados. Com isso, a redução do volume de lixo é reduzida, selecionando os materiais a serem reutilizados, porque também evita a contaminação dos renováveis e, ainda, ajudando na reciclagem dos materiais.
Há ainda a prática sustentável de alimentos onde o leite retirado dos bovinos é encaminhado para a Associação dos Pequenos Agropecuaristas do Sertão de Angicos (APASA) que os compra a uma determinada quantia por litro de leite, servindo para a economia. Já as frutas e legumes, por sua vez, são utilizadas pela própria escola, de maneira subsistente.
O manejamento sustentável também se encontra em uso no campus, já que os materiais orgânicos são utilizados como adubo nas plantações e, além disso, há a produção de biogás a partir do biodigestor, produzindo energia sustentável através do gás metano.
Nas plantações, há uma questão polêmica voltada para o uso de agrotóxicos, contudo, sua utilização não ocorre no espaço da instituição, não sendo usado nenhum produto químico, sendo substituído por um óleo natural feito à base de fungos e sementes de nim (Azadirachta indica). O problema encontrado nessa questão é a proximidade a um bananal pertencente a uma empresa privada, a Del Monte, que utilizam defensivos agrícolas aplicados por via aérea, podendo ser trazidos para as dependências da escola através das massas de ar.
No campus há uma área preservada no total de 26 hectares (cerca de 20% da totalidade) e, ainda, 80 hectares para os projetos e produções agrícolas voltadas a um de seus cursos, o de Agroecologia.
Um aspecto que gera muito debate é a questão do suposto desmatamento de uma área de reservas de plantas nativas, onde se encontram espécies conhecidas como sabiá (Mimosa caesalpiniae), jurema (Mimosa hostilis) e juazeiro (Ziziphus joazeiro). A preservação dessas espécies da caatinga nordestina é feita através da escola com uma parceira com a Termelétrica do Vale do Açu (TERMOAÇU).
Além das plantas citadas, há também a algaroba (Prosopis juliflora), que existe em demasia. É voltada para essa questão que se dá o suposto desmatamento, pois as algarobas são retiradas para sua utilização em fins acadêmicos.
O IBAMA, em nove de março do corrente ano, atendendo a uma requisição do Ministério Público Federal, realizou uma vistoria em toda a área escolar, com a finalidade de verificar se houve desmatamento no lugar e se houve licença ambiental para a ação, caso confirmada. A conclusão dessa análise foi o desmate de 19 hectares da espécie algaroba em duas áreas distintas: 17 hectares para implantação do projeto de ovinos na escola e formação de pastagem e 2 hectares para ampliação da área do plantio de milho da Fazenda Escola.
Já o IDEMA, em sua última inspeção, realizada dia 15 de abril do corrente ano, constatou o desmatamento de uma área de 19 hectares de vegetação composta por algaroba, entretanto, as retiradas foram feitas com o objetivo de implantar um projeto de pesquisa e ampliar a área do plantio de milho.
            Como a algaroba é uma planta em abundância e não se encontra na área de preservação permanente, não foi emitida a autorização para supressão vegetal, sendo assim, o desmate realizado pela escola não precisou de autorização ou Licença Ambiental.
Não há uma totalidade na prática ecológica, mas quando a ecologia está inserida no âmbito da educação, buscando uma intersecção entre a necessidade social e a necessidade ambiental, servidores e alunos trabalham juntos em prol de uma aprendizagem operando em conjunto com a ação ambiental.
Uma escola ecologicamente correta não é aquela que utiliza a teoria para fixar na mente de seus estudantes conceitos sobre meio ambiente, sustentabilidade e conseqüências de ações antrópicas, mas aquela que demonstra exemplo através de seus servidores e, além disso, traz para seus estudantes um exemplo dado através de suas medidas implantadas; que reduzem os danos ambientais, pois ainda é difícil utilizar de ações totalmente corretas para que possam suprir as necessidades sociais.
Veja Os Documentos Comprobatórios:
Por Natália Lacerda e Wemerson Júnior
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